É crítico criar comunidades de golfistas femininas em cada clube e em cada região
Quando chegam os quentes dias de verão tenho por hábito rumar a terras algarvias. Apesar de se tratarem essencialmente de férias de praia, nunca esqueço o saco de golfe para aproveitar os excelentes campos do sul. Mas o tema que aqui me traz não é relativo ao que fui encontrar no Algarve mas ao que tenho pena de não encontrar nos campos do resto do país: senhoras a jogar golfe.
Quem joga no Algarve não consegue deixar de notar que os campos estão cheios de senhoras, na sua maioria estrangeiras, que, com amigos e amigas, com a família ou simplesmente com o marido, percorrem os fairways a desfrutar do ar livre, do exercício e da companhia.
O choque é natural dado que ao longo do ano é raro o torneio que consegue mais de meia dúzia de inscrições femininas. Na verdade é fácil corroborar esta observação verificando que o número de senhoras federadas em Portugal ronda 18 por cento do total de federados. Se tivermos em conta que por via do advento do handicap o golfe é um dos desportos mais democráticos que existe, permitindo que jogadores de diferentes níveis compitam de igual para igual, esta realidade torna-se mais gritante e mais difícil de entender.
Infelizmente, no nosso país, o desporto continua a ser coisa de homens. Os ginásios, o running (como diria Ricardo Araújo Pereira), e mais recentemente o padel vieram inverter o paradigma na Geração X e estou certo que os Ys e os Zs assim prosseguirão. Mas apesar da tendência positiva, não podemos, não devemos esperar por uma evolução orgânica. É importante que cada um contribua de forma ativa, desafiando as mulheres que o rodeiam a experimentar o golfe. Mães, filhas, irmãs, primas e amigas – falem com todas, vão até ao driving range, invistam numa aula. Nem todas vão gostar mas estou certo que muitas se entusiasmarão com o golfe e com toda a sua envolvente.
O esforço da comunidade deve ser acompanhado por uma estratégia concertada dos clubes e da Federação. É crítico criar comunidades de golfistas femininas em cada clube e em cada região. Isto porque apesar de ser verdadeiramente gratificante passar um dia no campo em família, o boom só ocorrerá quando as senhoras tiverem um grupo alargado de parceiras com quem possam evoluir confortavelmente e acima de tudo com quem se possam divertir.
É verdade que em alguns clubes já existem grupos de senhoras que jogam juntas regularmente. Mas infelizmente estes tendem a reunir-se durante a semana, o que é inviável para a maioria das potenciais jogadoras. Por outro lado, por força das circunstâncias, estes grupos são compostos por senhoras que jogam juntas há muitos anos e que têm um nível de golfe acima da média. O resultado natural desta realidade é que se estabelecem dinâmicas próprias que por vezes podem ser intimidantes para uma recém-chegada.
Estamos, portanto, perante o dilema do ovo ou a galinha. As senhoras não jogam porque não encontram outras senhoras com quem jogar… Como dizia o personagem de Kevin Costner no filme de culto Campo dos Sonhos, "If you build it, they will come". Neste sentido fica a sugestão de criar um grupo aberto ou, quem sabe, um clube sem campo só para senhoras. Este começaria por organizar um torneio por mês (ao fim de semana para que todas possam participar) e lançada a semente viriam mais iniciativas.
A verdade é que quando me deparo com propostas peregrinas para atrair mais pessoas para o golfe, como aumentar o tamanho dos buracos, penso que antes de estragar uma modalidade centenária devemos fazer um esforço por partilha-la com a outra metade da população.
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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque