Troféu sem tradição, formato banal, field fraco, data desfavorável e ausência de prize-money
Tendo já abordado a relação histórica entre o golfe e os Jogos Olímpicos venho agora focar a XXXI edição que se realizará daqui a menos de um ano, no Rio de Janeiro, e que já está a fazer manchetes.
Pierre de Coubertin, o visionário fundador dos jogos modernos, referiu que estes “são a celebração quadrienal da primavera da humanidade” e poucos são os que põem em causa a festa que este evento representa. Mas apesar de tudo, não são poucos os que têm demonstrado ceticismo relativamente à inclusão do golfe nos Jogos Olímpicos.
Ao introduzir um novo evento no calendário golfísticos as autoridades tiveram oportunidade de desenhar um formato original e apelativo que alavancasse o espirito dos Jogos Olímpicos e ambicionasse replicar um pouco da magia da Ryder Cup. Em vez disso optou-se pelo banal formato de 72 buracos em strokeplay individual para senhoras e para homens.
Num evento que pretende servir de montra da modalidade e que tem o objetivo explícito de atrair novos jogadores, especialmente no Brasil, teremos um torneio igual ao da semana anterior aos jogos e idêntico ao da semana seguinte. Só não será exatamente igual porque o sistema de qualificação afasta muitos dos melhores jogadores e abre a porta a potenciais momentos como o que vimos da piscina olímpica de Sydney. Sendo assim, o torneio será em tudo idêntico aos outros menos na profundidade do field que é um fator critico para o seu sucesso.
Alguns jogadores, como Adam Scott, defendem que teria sido interessante manter o evento amador para dar uma oportunidade aos jovens e piscar o olho ao espirito idealizado por Coubertin. Mas os Jogos de hoje têm pouco a ver com a camaradagem e o desportivismo de outros tempos e num mundo que revolve à volta dos patrocínios seria impensável que Rory McIlroy, Jordan Spieth ou Sergio Garcia não estivessem presentes. Isto para não falar em Tiger Woods que continua a ser o jogador que mais mexe o ponteiro das audiências mas que está muito longe de se qualificar.
Olhemos então para o sistema de qualificação. O apuramento basear-se-á no Official World Golf Ranking (OWGR), com um total de 60 jogadores qualificados para cada um dos eventos (homens e senhoras). Os 15 melhores jogadores serão apurados, com um limite de quatro por país. Os restantes lugares vão para os seguintes jogadores mais bem cotados tendo sido estabelecido um máximo de dois jogadores por país. Para além disto a International Golf Federation indicou que pelo menos um jogador do país anfitrião e um de cada região geográfica será apurado.
Sendo assim se os jogos fossem hoje os EUA teriam 14 jogadores no top 25 mas apenas 4 participariam. Jogadores como Dustin Johnson (número 9 do OWGR) não poderão competir mas em compensação contaremos com a presença de jogadores como Mark Tullo, do Chile (número 382 do OWGR) . Felizmente, para Portugal, o sistema joga a favor dos jogadores nacionais sendo que com os excelentes resultados que Ricardo Melo Gouveia tem amealhado praticamente garantem a sua presença na cerimónia de abertura no Estádio do Maracanã.
Outro ponto relevante é que o golfe olímpico também impactará o calendário de torneios e em particular o calendário de Majors uma vez que o PGA Chamiponship será jogado em Julho, em vez de Agosto, pela primeira vez desde 1972 e o Open será antecipado uma semana.
Para além da dança das datas há outro fator significativo: O ranking Olímpico é decidido a 11 de Julho de 2016 o que significa que os resultados destes dois majores não contarão para aferir quem jogará no Rio. Sendo assim o tabuleiro está montado para que ocorra outro caso como o de Billy Horschel que em 2014 não foi convocado para a Ryder Cup porque a decisão foi tomada dias antes de ele ganhar a FedEx Cup.
Sendo que o golfe já tem os seus quatro Majors +1 há quem tenha referido que as motivações para os melhores jogadores do mundo participarem e darem o seu melhor nos Jogos Olímpicos são poucas. Afinal trata-se de um torneio cujo trofeu não tem tradição golfística, que se joga num formato banal, com um field fraco, sem prize money e que ocorre poucas semanas depois do Open e do PGA Championship.
A verdade é que o sucesso do golfe nos Jogos Olímpicos não é um dado adquirido e é provável que na edição de 2020 se verifiquem significativos ajustes ao modelo. Mas é essencial que nesta primeira edição tudo corra na perfeição porque a participação em 2024 não está garantida.
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Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque