Torneio igual a todos os outros foi um erro que põe em risco permanência da modalidade
Muito se escreveu nos últimos meses sobre os problemas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A verdade é que não há memória de uma cidade tão mal preparada para receber tamanho evento. Das infraestruturas à segurança passando pela poluição e pelo Zika gerou-se uma tempestade perfeita e quem vai “pagar o mico” são os atletas que não têm outro remédio.
Para além de todos os problemas transversais destes Jogos o golfe tem uns exclusivos. No ano passado escrevi um texto onde apontava algumas das razões pelas quais achava que a reintrodução do golfe como desporto olímpico seria complicada. Uma das principais problemáticas que apontava é a falta de imaginação do modelo aplicado. Sendo esta uma competição de nações que ocorre a cada 4 anos poder-se-ia introduzir um formato de equipas. Desta forma tentar-se-ia replicar um pouco do mítico espirito da Ryder Cup. Para tal bastaria capitalizar no conhecimento adquirido com a organização da Copa do Mundo de Golfe.
Ao fazer um evento de equipas julgo que seria mais fácil incutir o espirito olímpico e assim conquistar o interesse de jogadores e adeptos e consequentemente as tão cobiçadas audiências. No entanto, ao fazer um torneio igual a todos os outros corre-se o risco do golfe olímpico ser abafado o que porá a sua permanência em causa.
A verdade é que as noticias dos últimos tempos não são auspiciosas pelo menos se nos basearmos nos 21 jogadores que se qualificaram e optaram por não comparecer, nomeadamente, Rory McIlroy, Jason Day, Dustin Johnson, Adam Scott e Jordan Spieth. Por outro lado mesmo sem a nata do golfe mundial o field não deixa de ser interessante estando presentes dois dos vencedores dos Majors de 2016, Danny Willet e Henrick Stenson, assim como grandes nomes como Bubba Watson, Sergio Garcia e Rickie Fowler.
De todas as formas e apesar dos problemas devemos focar-nos agora no que estes Jogos têm de bom e alegrar-nos por ter não um, mas dois, portugueses em campo. Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima levarão as nossas cores ao Estádio do Maracanã e ao Campo Olímpico de Golfe, na Barra da Tijuca. São estes grandes passos que elevam o golfe nacional e que contribuem não só para fatores como a dinamização do nosso país como destino de golfe mas também, e sobretudo, para motivar futuras gerações que há muito procuram ídolos que os ajudem a sonhar.
Fico particularmente contente por ter lido declarações de Melo Gouveia em que afirmava que o objetivo era trazer o ouro para casa. Felizmente, parece que a vergonha de sonhar alto que tantas vezes nos caracteriza está a tornar-se uma coisa do passado. É preciso acreditar para alcançar. Se depois não se conseguir - acorda-se mais cedo, levanta-se mais peso, bate-se mais bolas mas sempre com os olhos postos no pódio.
Desejo todo o sucesso aos nossos atletas e espero que o facto de jogarem num país de língua portuguesa assegure um ou outro members bounce. Entretanto vou procurar uma loja que venda pólos do equipamento olímpico de golfe para poder ver o jogo equipado a rigor.
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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque