Vai-se para o campo e descobre-se que o driving range é apenas a ponta do iceberg
A iniciação no golfe pode ser um pouco intimidante, por isso é essencial abordar o tema com um plano de acção a médio prazo e expectativas ambiciosas mas reais. No primeiro dia quase não se acerta na bola. Passado umas semanas acerta-se mas sem consistência. E ao final de uns meses começa-se a ir para o campo e descobre-se que afinal o driving range é apenas a ponta do iceberg do que é o golfe.
Mais do que jeito, começar a jogar requere persistência e paciência. É relativamente fácil calçar umas chuteiras e atirar uns chutos à baliza ou pegar numa raquete e passar a bola por cima da rede. Naturalmente que depois vem toda uma evolução mas os quick wins estão lá para motivar. No golfe é diferente e é por isso que quando falo com pessoas que querem aprender a jogar tento gerir as expectativas assegurando que elas dão uma oportunidade a que o bichinho morda.
A fórmula que recomendo divide-se em 4 etapas. A primeira é simplesmente o contacto inicial com os tacos, a bola e a relva. Enfim, é a apresentação à modalidade. Ainda nem estamos a falar de aulas e o custo é o de um balde de bolas que varia entre os €2 e os €5. Para tal é preciso um amigo que tenha tacos ou um driving range que os empreste ou alugue. O objectivo é simples: passar um bom bocado. O amigo pode dar umas dicas mas não deve insistir na posição ideal. Nada de comprar sapatos, luvas e muito menos tacos. Essa é a parte fácil e sem dúvida divertida mas que muitas vezes acaba com material novinho a acumular pó na arrecadação.
Com base neste primeiro contacto o principiante decide se quer avançar para a fase das aulas. Conheço jogadores que, como o Bubba Watson, nunca tiveram uma aula, mas estas são as excepções e não a regra. O grip e o swing são contranatura e altamente mecânicos, pelo que é importante aprender as posições correctas logo no início. O risco de não o fazer é de mais tarde ter de passar pela dolorosa experiencia de desaprender tudo e voltar a construir.
Os preços de formação variam mas rondam os €25 por meia hora de aula individual. E meia-hora chega perfeitamente, porque a seguir ficamos a treinar o que aprendemos. Tipicamente os centros de formação oferecem pacotes de horas assim como aulas de grupo. E eis que surge o primeiro investimento em material: €10 numa luva e já está. Os professores têm tacos para os alunos usarem, uns ténis servem perfeitamente e a roupa limita-se a um polo e calças que não sejam jeans. Jamais jeans!
Esta segunda fase dura dois a três meses e é a mais árdua, porque é aqui que se começa a desenvolver a memória muscular. Há centenas de componentes num swing de golfe e nos primeiros tempos o cérebro tenta controlar todas de forma consciente. O segredo está em treinar para que tudo se torne automático. Cada jogador tem a sua cadência, mas com uma aula por semana durante dois a três meses intercalada com umas idas ao driving range a evolução pode ser rápida e gratificante.
É assim que chegamos à terceira fase, as idas ao campo, que é acompanhada pela compra dos primeiros sapatos, tacos, e bolas… muitas bolas. Há material para todos os gostos mas para principiantes um set em segunda mão mantém os custos baixos e chega perfeitamente. Quando chegar aos 28 de handicap é sinal de que está na hora de pedir ao Menino Jesus um set novo. Aliás, uma das vantagens de ser jogador de golfe é que a família e os amigos nunca mais terão de pensar no que é que vão oferecer nos anos e no Natal.
Nos primeiros tempos vale a pena escolher campos de treino como o do Estádio Nacional ou o Campo Azul, do Estoril, e horários de menos afluência. Por 10 a 20 Euros tem-se acesso a fairways perfeitamente bons e evita-se a pressão dos “pros” a reclamarem porque passamos muito tempo a procurar bolas ou precisamos de três tentativas para sair do bunker.
Nesta fase percebemos que o golfe não é só aquele ferro 7 que tanto treinámos no driving range. Temos que aprender a jogar por entre árvores, em fairways inclinados, com vento, com chuva e acima de tudo de gerir a pressão de saber que todas as pancadas contam, pelo que falhar não é opção.
É assim que, em meros meses, com determinação e pouco investimento, se começa a jogar golfe. A quarta fase é, nada mais, nada menos, que o resto da nossa vida. Vamos sempre querer aperfeiçoar algo. Um dia treinamos putts, noutro dia os ferros e noutro ainda o jogo curto. Trabalhamos para que todas as componentes encaixem e de vez em quando os deuses do golfe premeiam-nos com uma volta perfeita que nos faz regressar uma e outra vez.
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Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque