O golfe é um desporto de cavalheiros e deve ser encarado e preservado como tal
O golfe é um desporto centenário com toda uma tradição que o envolve e de certa forma o destaca de outras modalidades. Esta tradição levou a uma série de regras codificadas que todos os golfistas devem interiorizar mas também a uma etiqueta muito particular. Na sua essência estas unwritten rules traduzem boa educação, boa vizinhança e bom senso, pelo que não há razão para não serem respeitadas.
Não me vou alongar no tema das regras propriamente ditas, até porque existem fóruns, blogs e grupos online que se dedicam a tirar dúvidas nos casos mais excêntricos. No golfe praticamente todas as situações estão previstas, pelo que o jogador ocasional terá dificuldade em conhecer todas as regras de cor. O que não significa que se deve pisar os greens sem saber as mais básicas. Como jogar de um bunker, quais as diferenças entre dropar num obstáculo de água frontal e de um lateral, como e quando jogar uma bola provisória, quantos tacos pode levar no saco, como proceder se considerar a bola injogável e o que fazer se o parceiro pedir um conselho. Estes são alguns dos mais elementares pontos e se não souber a resposta recomendo uma passagem de olhos pelo Guia Rápido das Regras de Golfe.
Já que estamos a falar de regras não posso deixar de relembrar que no golfe estamos, antes de mais, a jogar contra nós próprios. Aliás uma das razões que tornam este desporto grande é ser o único em que um jogador se pode penalizar a si mesmo. Trata-se de um desporto de cavalheiros e deve ser encarado e preservado como tal.
Mas regras são regras e são para cumprir, por isso todos acabam por aprender as normas básicas. O mesmo já não se pode dizer dos bons costumes que asseguram a segurança e a convivência em campo.
A nova geração de jogadores como Rickie Fowler, com o boné pala de pato, e Bubba Watson, com a sua simpática irreverência, são essenciais para a massificação do golfe. O desporto não deve ser elitista mas também não pode sucumbir a pressões que pendem para o mais baixo denominador comum. Todos gostamos de ver o Waste Management Phoenix Open, em particular a festa no buraco 16, mas o circo deve ser a excepção e não a regra.
Sendo assim comecemos por um ponto que embora menor é representativo de tudo o resto: a roupa. Não vamos trabalhar de fato de banho e havaianas, não vamos a um casamento de manga à cava e botas de cowboy e não jogamos golfe de t-shirt e jeans. Trata-se de um símbolo externo de respeito pelo desporto, pelo campo e pelos parceiros.
Passemos então a outros pontos que embora sejam de La Palice começam a cair no esquecimento. Os bunkers devem ser varridos após jogados e os divots nos greens devem ser reparados. Aliás, devemos reparar os divots nos greens sejam eles nossos ou não. Trata-se da teoria da janela partida: se um prédio permanece com algumas janelas partidas perde-se o respeito pela propriedade e mais janelas serão partidas até que o edifico se transforma num local oportuno para a prática de crimes graves. Se queremos greens bons devemos fazer a nossa quota-parte, perpetuando um ciclo virtuoso.
Um dos temas que está na ordem do dia é o jogo lento. As razões para que este se verifique são muitas e opiniões sobre como erradicá-lo não faltam. Seja como for, há procedimentos básicos de comportamento em campo que se aplicados por todos melhorariam a situação. Antes de mais o jogador deve estar sempre pronto para jogar quando é a sua vez. A escolha do taco deve ser feita enquanto se caminha para a bola. Como tal, os jogadores que utilizam aplicações nos telemóveis para ver as distâncias não devem esperar até chegar à bola para tirar o telefone do bolso, inserir o código, ativar a app e esperar pelo GPS. Quanto aos swings de ensaio - se precisa de mais de um ou dois deveria estar no driving range a praticar e não no campo a jogar.
A regra de ouro no que toca a ritmo de jogo é relativamente simples. As formações devem esforçar-se por manter o grupo da frente à vista. Se o perderem e tiverem pessoas atrás, à espera, devem dar passagem para que o seu ritmo não afecte outros jogadores. Nos casos em que a formação da frente for lenta e não der passagem esta pode e deve ser pedida sendo que jogar para cima de outros, por muito que apeteça, não é opção.
O mesmo princípio é aplicável no green, onde os jogadores devem deixar os sacos a caminho do tee seguinte para que quando terminem possam abandonar a zona o mais rapidamente possível. Quando no green a leitura da linha deve ser feita de forma rápida e eficiente de preferência antes de chegar a vez de jogar. E, a não ser que estejam milhares de euros em jogo, mais de duas leituras de linha é um exagero. Devemos ter a noção que não é por ler a linha de trás para a frente, da frente para trás, dos lados, deitados e de cócoras que a coisa vai melhorar muito.
A procura de bolas contribui muito para o jogo lento pelo que é importante cumprir a regra de limite de tempo que se fixa em 5 minutos. Sendo que nos casos em que a bola for parar ao meio do mato o melhor é jogar outra e seguir. A probabilidade de a encontrar é baixa e o ritmo de jogo sofre.
Relativamente ao ruido em campo, o golfe é um desporto de concentração onde o silêncio impera. Sabemos que a conversa é uma parte essencial do convívio mas quando um jogador se faz à bola não há desculpa. Como tal deve-se desligar sempre o som do telemóvel e ter também presente onde estão as restantes formações assegurando que os nossos movimentos e sons não afectam o seu jogo.
Por fim, uma palavra sobre a frustração que tantas vezes acompanha esta nossa modalidade. Todos temos dias melhores e dias piores e é perfeitamente aceitável que na sequência de um shank surja alguma manifestação. Mas gritar e atirar tacos não têm lugar num campo de golfe.
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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque